11/11/10

António Barreto: Fotografias, 1967-2010


Imagem: António Barreto. Montreux, Suiça, 1970. (fotografia que ilustra a capa do livro).

Uma exposição e um livro marcam hoje, em Lisboa, a estreia da apresentação pública de António Barreto fotógrafo. O sociólogo e analista do tempo que passa é também um fotógrafo compulsivo, mas discreto e sempre distante. Como quem está “de passagem”.

As mulheres da Nazaré surpreendidas no seu mundo negro de pranto sempre iminente; dois homens a conversar na berma da estrada, sobranceiros à cidade de Montreux e ao lago Léman, na Suíça; uma rapariga a posar displicentemente na esquina de um passeio, em Londres; três jovens na Praça do Povo em Roma, seguidos à distância por alguém de quem apenas se entrevê um braço?...

Situações que podemos multiplicar por 40, ou por 227, respectivamente o número de imagens que constituem a exposição e o livro António Barreto: Fotografias, 1967-2010, que hoje são apresentados em Lisboa, pelas 19h00, na Galeria Corrente d’Arte (Avenida de D. Carlos I, nº 109).

Mas estes instantâneos poderiam mesmo, no limite, multiplicar-se por 12.442 vezes, o número de negativos que o autor e principalmente a historiadora da fotografia Ângela Camila Castelo- Branco respigaram da colecção de Barreto para a realização deste seu primeiro livro e da consequente exposição (que poderá ser visitada até 30 de Dezembro).

Nela (e no livro, editado pela Relógio d’Água) encontraremos mais de quarenta anos de actividade fotográfica de António Barreto, o ex-ministro, sociólogo e observador atento da sociedade portuguesa (e do mundo) que nos habituámos principalmente a ler (é cronista do PÚBLICO desde o lançamento do jornal) e a ouvir nas televisões. E poderemos continuar a viajar, “de passagem”, pelo mundo inteiro: uma cena de Inverno em Champigny, em França; as pirâmides e a esfinge em Gizé, no Egipto; um vulto furtivo numa praça de Berlim, ainda no tempo da RDA; um homem solitário à espera de um comboio, em Londres; reformados a jogar às cartas junto ao mar, no Porto; e, claro, a sempre presente paisagem do Douro, a terra onde António Barreto (n. Porto, 1942) “viveu a sua infância entre escarpas e vinhedos”, e onde “ganhou corpo num ambiente familiar de província antiga, sob uma disciplina e uma austeridade que lhe forjaram o carácter”, como recorda Ângela Camila Castelo- Branco no texto Ler fotografia, a apresentar o livro e a exposição.

“António Barreto quer mostrar-nos as situações, mas quer estar o menos possível nas fotografias. Como se pretendesse que aquilo que sente não interfira com a realidade captada pela objectiva – a “presença ausente”, acrescenta a autora e co-fundadora, com Barreto, em 2007, da APPh – Associação Portuguesa de Photographia.

“De passagem” – é como António Barreto diz ter-se sentido agora, retrospectivamente, quando reviu as milhares de imagens que registou durante mais de quatro décadas de vida e de memória. “Fico com a impressão de que passeei pelo mundo, cidades e campos, homens e mulheres, sempre distante. Parece que nunca pertenci. Que nunca fiz fotografia as ‘de dentro’, que nunca me integrei. Em frente, atrás ou ao lado, mas sempre distante”, pode ler-se no texto do autor.

Por aqui passa visivelmente o lugar do sociólogo. Mas passa também o de alguém inquieto com a realidade que observa, e compulsivamente fotografa, mas sem pressa. Seja a exploração social e a pobreza na América Latina: Bolívia, Brasil, Peru, Venezuela; sejam momentos históricos como o Chile de Salvador Allende, no início da década de 70; ou o desembarque, em Lisboa, dos soldados regressados da Guiné, celebrando em t-shirts com o rosto de Amílcar Cabral o fim da guerra colonial. Fonte: Público.

Pode ver algumas das fotografias do livro AQUI.

~ 3 comentários: ~

ci says:
at: 12 novembro, 2010 10:13 disse...

muito interessante, ruimnm. sempre atento.

Angel Corrochano says:
at: 13 novembro, 2010 12:11 disse...

Si hay un lugar para estar al día de interesantes noticias, ese lugar es éste blog
Fuerte abrazo

Gonçalo says:
at: 09 maio, 2011 12:50 disse...

No próximo sábado lá estarei na feira do livro para comprar este livro e pedir o autografozinho...

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