06/08/09

Um ícone da fotografia na insolvência



Um ícone do fotojornalismo dos anos 70 e 80, a agência francesa Gamma, uma das mais respeitadas do mundo, está a enfrentar o risco iminente de falência.

A empresa, fundada em 1966 por Raymond Depardon e Jean Lattès, teve a insolvência decretada no fim de Julho e recebeu um prazo de seis meses pelo Tribunal de Comércio de Paris para pagar as dívidas e encontrar novos investidores. A crise, segundo os seus actuais proprietários, é causada principalmente pela redução do espaço para as grandes reportagens nos media a nível global.

Os problemas financeiros foram conhecidos em 30 de julho, quando o Grupo Eyedea Presse, proprietário da agência, fez o pedido de insolvência no Tribunal de Comércio de Paris, depois de experimentar perdas de 3 milhões em 2008.

A Gamma e a Rapho - a mais antiga agência de fotojornalismo de França, propriedade do mesmo grupo - empregam hoje 55 pessoas, dos quais 14 fotógrafos. Junto com o pedido de insolvência, a Justiça designou um administrador judiciário, que terá a missão de analisar o plano de recuperação a ser elaborado pela companhia. Um programa de demissões voluntárias está previsto. Caso o esboço não seja aceite pela Justiça, ofertas de aquisição serão consideradas, antes da eventual falência.

Ao lado das agências Sygma e Sipa, a Gamma passou a ser referência no jornalismo europeu pouco após a sua criação. A sua estratégia era investir em fotos de personalidades, ao mesmo tempo em que fazia grandes reportagens, muitas das quais em zonas de conflito em todo o Mundo. Além disso, abrigava nos seus quadros profissionais que se tornaram referências internacionais, entre os quais o brasileiro Sebastião Salgado, entre 1975 e 1979.

De acordo com o director-presidente de Eyedea, Stéphane Ledoux, parte das dificuldades financeiras está relacionada justamente ao seu modelo de negócios. "A imprensa não se interessa mais pelos temas profundos, cuja produção é cara e é vendida cada vez mais barata", argumenta.

A crise também se teria aprofundado a partir de Dezembro, quando a imprensa norte-americana, também prejudicada pela crise do sector, reduziu os pedidos de pautas.

Hugue Vassal, fotógrafo e um dos fundadores da agência, entretanto, tem outra análise para a insolvência. Para ele, a mudança na forma de pagamento dos profissionais, que previa a divisão do lucro de uma foto em 50% para a agência e 50% para o fotógrafo - um modelo do qual a Gamma fora uma das pioneiras -, teria diminuído o interesse de grandes fotógrafos, resultando em queda da qualidade.

Outra razão, segundo Vassal, teria sido o advento da fotografia digital. "Hoje, numa guerra ou num terramoto, teremos a foto de todo modo. Na época, vendíamos uma reportagem por 15 mil. Hoje, vende-se por 3 mil. A época de ouro acabou."

Mesmo com a turbulência financeira, o destino da Gamma não está selado. Além do prazo de seis meses para encontrar novos investidores, a agência deve contar com o suporte do governo francês. O sinal foi dado pelo ministro da Cultura, Frédéric Mitterrand, ao afirmar que está "à escuta dos profissionais nesse momento difícil".

O sítio da Agência Gamma Aqui.

~ 2 comentários: ~

the dear Zé says:
at: 08 agosto, 2009 04:02 disse...

Não há espaço para reportagens, porque falta para a publicidade e frivolidades. Sinais dos estranhos tempos em que vivemos meu amigo...

Remus says:
at: 08 agosto, 2009 15:18 disse...

É a crise. Mas provavelmente nós (fotógrafos amadores) não somos totalmente alheios aos problemas das agências de fotografia.
Porquê pagar muito dinheiro por uma fotografia a uma agência, quando aqui ao lado o fotógrafo amador tem uma parecida e que é praticamente de graça?

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