O artista plástico francês Auguste Rodin (1840-1917) não era um entusiasta da fotografia. "O artista é que é verdadeiro, a fotografia é mentirosa", decretou ele. Porém, poucos criadores fizeram uso tão intenso das possibilidades fotográficas do que justamente Rodin - e parte do vasto material gerado a partir do trabalho de diversos fotógrafos em seu atelier é o foco maior da exposição "Rodin: Do Atelier ao Museu - Fotografias e Esculturas", que está patente na Casa Fiat de Cultura (Brasil) até ao dia 13 de Outubro.
Estima-se que, ao longo de 40 anos, foram produzidas 7.000 imagens encomendadas por Rodin a quem se dispusesse a acompanha-lo no quotidiano artístico. "Ele próprio nunca fotografou, mas teve relações muito próximas com quem trabalhou junto dele", diz Hélène Pinet, responsável pelo acervo fotográfico do Museu Rodin, em Paris. "As primeiras séries eram de registos pessoais. Rodin transmitia-as a gravadores, que iriam utilizá-las em jornais para divulgar o que fazia."
A mostra reúne 194 fotografias originais, datadas entre 1880 e 1917, de nomes pouco referenciados - Edward Steichen, Alvin L. Coburn, Jean Limet, Stephen Haweis, Henry Coles - que retrataram desde moldes de futuras esculturas (várias dessas fotos são contornadas à mão pelo próprio Rodin, de forma a dar mais intensidade à imagem) até objectos de trabalho, como ferramentas, aquecedores e panos. "Era mistura de fotografia, pintura e escultura", afirma Hélène.
Essas fotografias estão a ser mostradas no Brasil pela primeira (e talvez única) vez. Em seguida, voltam a França para serem armazenadas numa reserva técnica por cinco anos, sem qualquer possibilidade de saírem de lá.
"Ele considerou a fotografia como testemunho visual, tão verídico quanto a visão directa que se podia ter das reais condições de elaboração da obra", escreve Dominique Viéville (director do Museu Rodin) no catálogo da exposição.
Há inclusive imagens de Rodin em pessoa, quase sempre (e vaidosamente) posando para a câmara - a mais impressionante é uma de Edward Steichen, com o francês de frente à sua notória escultura "O Pensador": a luz transforma criador e criação em grandes silhuetas sombreadas; ao fundo, bem iluminado, um retrato do escritor (também francês) Victor Hugo.
O primeiro fotógrafo contratado pelo escultor Auguste Rodin para lhe acompanhar no dia-a-dia de seu fazer artístico foi Gaudenzio Marconi.
A convocação deu-se em 1877, no intuito de registar a concepção da peça "A Idade do Bronze" e ajudar Rodin a refutar acusações de que fazia esculturas como se fossem reprodução natural. Rodin, portanto, fez muito bom uso das fotografias como publicidade de si mesmo.
Esperto para divulgar o trabalho que realizava, o francês colocava fotografias do seu atelier nas mostras promovidas com obras da própria autoria, fazendo delas peças autónomas que formavam uma espécie de segunda exposição.
A certa altura da vida, Rodin mudou a antiga posição e reconheceu por sua conta que aquelas imagens tinham importância única: "Acredito que a fotografia pode criar obras de arte", afirmou. Mas não deixou de critica-las novamente, desta vez sob o ponto de vista social: "Até o momento, ela [a fotografia] tem se mostrado terrivelmente burguesa e balbuciante".
Fonte: O Tempo Online
Foto: Dornac/Reprodução (Rodin diante do monumento a Victor Hugo, no seu atelier).
O sítio da Casa Fiat de Cultura Aqui.
O sítio do Museu Rodin Aqui.
~ 2 comentários: ~
at: 15 agosto, 2009 00:53 disse...
Concordo com o mestre Rodin. É só o que digo.
cumprimentos,
JR
at: 12 novembro, 2011 00:46 disse...
Afinal o "mestre" também dizia disparates. A fotografia é apenas um meio maleável às intenções, mais ou menos verdadeiras, do seu autor.Tal como a própria escultura.
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